DE ARISTEU A GENI

Disse dona Geni para mim:
- Não tem nada que eu possa ler?
Com certeza, ela devia estar pensando num outro tipo de Literatura, mas eu pensei em algo diferente e ponderei:
- A senhora quer ler um livro dos que eu tenho?
- Ela assentiu, e eu indiquei onde ela poderia pegar um livro para ler.
Minutos depois ela voltou para onde estávamos com 6 livros a mão.
Pegou um, e começou sua leitura.
De repente virou-se para mim e perguntou:
- O que é albente plaga? Está escrito aqui "Ah! Terra dos paulistas preferida!                                                                                                              Não sou de Santos mas daria a vida
                                                                     Para morrer em tua albente plaga
Eu pego o livro de suas firmes mãos, leio, e explico a ela, sem me dar conta do autor daquele livro:
- Este poeta está se referindo a Santos, local na opinião dele,  preferido dos Paulistas, e que embora ele não sendo daqui, no caso de Santos, daria a sua vida para morrer na região de ondas brancas, alvejantes.
Dona Geni gostou daquela descrição, e voltou os olhos para a leitura do livro.
Alguns minutos depois Dona Geni diz que vai terminar a leitura no seu quarto.
Eu então volto a me ocupar com o meu caderno, e a vida segue lá no interior da casa.
Eis que uns quinze minutos depois, meu filho Caio aparece na varanda onde eu estava e me fala:
- Pai foi você que deu estes livros para a vó?
A resposta era óbvia,e a minha pergunta também?
- É que a vó chegou lá na cozinha perguntando quem tinha deixado estes livros lá no quarto dela.
Meu filho me entrega os livros, e faz um comentário final.
- Não adianta pai dar as coisas para a vó assim, ela não vai se lembrar depois. Ainda bem que ela devolveu, se não estes livros iriam ficar escondidos lá no quarto dela, e para sempre.
Eu peguei os 6 livros, e procurei entre os seis, aquele que tinha o terceto que chamou a atenção naquele precioso momento da Dona Geni. Era parte do soneto "Nos risonhos domingos do Gonzaga", e para a minha surpresa, o livro em questão era uma preciosa edição do ano de 1960 do livro "Roteiro do meu além"
O primeiro livro de Aristeu Bulhões, grande Poeta Brasileiro, que na memorável noite de 19 de Março de 1976 ao lado de Nelson da Lenita Fachinelli, Fabio Montenegro, Graziella Dias Sterque, Silvia Lemos Smith, Leopoldo Stasio Vanderlinde, Helon Rodrigues de Melo Filho, e outros artistas da nossa cidade, fundam aqui! A Casa do Poeta Brasileiro de Praia Grande-SP. Aristeu Bulhões é associado de número 3 na relação dos nossos 50 sócios fundadores, presentes na histórica noite de 19/03/1976.
Obrigado Dona Geni! Pois coube a senhora fazer o resgate de um momento histórico tão importante para a história poética de Praia Grande-SP.



                                                                    ARISTEU BULHÕES
                                                          Nascido em  08/06/1909 - Alagoas
                                                          Falecido em 31/10/2000 -  Santos
                                                                   





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